sexta-feira, 1 de março de 2013

Raul Pedro


Inflação, ressurgimento da pobreza e do desemprego, incertezas sobre o futuro. A Argentina está novamente perante um cenário de crise - a sétima desde 1975. Desta vez, inclui um impopular controle do dólar, além dos temores de eventuais desvalorizações da moeda e confiscos bancários.
"Cristina Kirchner não quer dialogar com a oposição nem ouvir conselhos dos próprios peronistas. É quase um 'autismo' administrativo que está levando o país à crise", diz ao Estado um ex-ministro kirchnerista. Depois, faz uma nuance: "Este não é um precipício, tal como o de (Fernando) De la Rúa em 2001, mas é um baita barranco."
A presidente está entre a espada e a parede, afirmam os economistas. Os empresários pedem que o governo desvalorize a moeda para recuperar a competitividade da economia. No entanto, embora esteja desesperada para aumentar o superávit comercial e contar com dólares para pagar a dívida pública, Cristina resiste à liberação do peso, já que isso implicaria em intensificar a escalada da inflação.
Os especialistas afirmam que a Casa Rosada improvisa as medidas econômicas, elaboradas por economistas novatos de "La Cámpora", denominação da juventude kirchnerista. Mario Brodersohn, ex-secretário da Fazenda do governo de Raúl Alfonsín, sustenta que "a desorientação e a paralisia dominam a gestão econômica".
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a conta corrente da balança de pagamentos da Argentina teve déficit de US$ 552 milhões no primeiro trimestre. O déficit fiscal argentino, que em 2011 foi de US$ 6,8 bilhões, pode chegar a US$ 11 bilhões este ano. A dívida externa cresceu dos US$ 130 bilhões de 2011 para US$ 141,8 bilhões em março.
Dados do Banco Central indicam que saíram da Argentina US$ 21,5 bilhões em 2011, 90% a mais que 2010. Para tentar controlar a inflação e a fuga de divisas, a presidente aplica um férreo - e inédito - controle sobre o dólar desde novembro passado. O controle intensificou a desconfiança dos argentinos sobre os rumos do governo Kirchner.
As medidas, segundo pesquisa da consultoria Management & Fit, foram condenadas por 59,8% dos entrevistados. O "corralito verde" só contou com o respaldo de 13,6%. O resto não tem opinião formada ou declara-se "nem a favor nem contra".
As restrições estão colapsando as importações (que já estavam limitadas por uma série de barreiras comerciais) e as operações financeiras entre filiais e matrizes de multinacionais no exterior. De quebra, o controle sobre a moeda americana desatou o ressurgimento de um mercado paralelo do dólar, algo que não ocorria desde 1991.

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